quinta-feira, 8 de abril de 2010

Carta à minha amiga virtual Ronita.


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Ronita não tive tempo de ver completamente seu vídeo, vi até +/- a metade, mas logo quero vê-lo completamente, o trabalho e a administração do RECICLARTE tem feito com que eu acorde às 6:00 e vá dormir por volta de 3:00 horas quase todos os dias, estou muito cansado mas feliz por estar fazendo o que gosto, infelizmente outras coisas que são de meu interesse tem sido negligenciadas.
Muito embora não tenha visto o vídeo até o final, daquilo que eu vi posso falar, eu sou bem informado e já discuti algumas vezes com amigos sobre este assunto, também esta semana minha filha Giulia, que estuda na Escola Politécnica José Venâncio, da FioCruz, estava às voltas com um trabalho nesta temática e discutimos exatamente esta abordagem utilizada no vídeo. Veja que nossas crianças, ao menos nas melhores escolas, estão sendo informadas desta questão ambiental e estão formando uma nova consciência do que seja o ecossistema humano.
A verdade é que a parte de qq consideração que tenhamos sobre aspectos éticos dos níveis de consumo e de consumo de proteína animal vale lembrar que nossa atuação neste planeta já de a muito se caracteriza como infestação virulenta, isto não é uma constatação emocional ou meramente adjetiva é também científica, a presença humana no planeta se tornou infestação viral e a consequência disto, quase sempre é a morte do organismo infestado. Isto é quase sempre inevitável, mas não creia que eu ache estarmos num caminho sem volta, estamos apenas seguindo nossa programação, nosso caminho de aprendizado neste mundo.
Estou convencido de que em algum momento, pela ação de anjos como vc, lutando pela mudança gradual das mentes humanas possam levar esta nossa humanidade a um novo amanhecer, sem no entanto com isto nos livrar das consequências de nossos fazeres, todo este desequilíbrio que geramos está nos levando a um gargalo de alternativas que creio não será transposto sem sofrimento, muito sofrimento...
Se por um lado existe a necessidade de diminuir o impacto ambiental e cármico que o consumo de carne animal produz, existe a realidade da ignorância, do descaso, do desinteresse e principalmente do fato que não há substitutos possíveis dadas as condições de vida da esmagadora maioria das pessoas no mundo, das diferenças culturais e estrutura fisiológica do organismo humano, para alguns uma vida vegetariana é possível para outros significa doença e fome branca.
Eu mesmo a uns vinte anos atrás entrei no movimento de uma vida mais saudável e num programa de progressiva supressão e substituição da carne por outros alimentos como a soja e os peixes ( também proteína animal, mas aceitável eticamente ao meu ver ), após um ano havia mudado minha base alimentar e me sentia bem até que começaram umas dores do meu lado direito, próximas ao fígado que aos poucos se tornaram dilacerantes, eu simplesmente não conseguia fazer nada diante de tal sofrimento, e olhe que sou conhecido por meus amigos como uma rocha, tenho uma resistência física e à dor espantosas, na verdade eu quase não sinto dor e quando sinto tenho meus artifícios mentais para ameniza-la, pois bem fui parar em emergências de hospitais por duas vezes até que fui me consultar com um clínico que após ver meus exames disse que estava com o pior mau do mundo: fome.
Não caí na gargalhada porque estava com muita dor, eu sempre comi bem e em quantidade, minha alimentação era a melhor, como isto era possível? O médico disse que eu tinha fome branca que se caracteriza quando comemos alimentos saudáveis e em quantidades mas não os melhores para nosso metabolismo e particularidades fisiológicas, meu organismo não se adaptou a falta da carne vermelha, a receita dele foi um belo filé de alcatra mau passado com brócolis e arroz integral, isto para mim era o saudável.

Nunca mais senti aquelas dores, segui a risca o receitado, após a consulta atravessei a rua, sentei no restaurante em frente e pedi o filé.
Veja que este caso, que considero folclórico mas dolorido, ilustra um pouco dos problemas que estão em jogo, a elevação dos níveis de proteína animal ingeridos pela população está diretamente relacionado ao aumento da altura e da massa corporal do ser humano, a vida se tornou mais veloz e não há tempo para a busca de uma alimentação mais saudável, isto é um mito, bem sei, mas é aceitável que hajam problemas em faze-lo, ainda mais se houverem restrições alimentares deste tipo, no mundo inteiro a carência de fontes de proteína é gritante, sempre foi escassa mas agora é quase nenhuma em alguns lugares, trata-se de questão de saúde pública onde se aceita o mau menor.
Visto isto só resta como alternativa a mobilização dos formadores de opinião, informando e propondo saídas, e as políticas de governo que dêem preferência a um modelo de produção de alimentos e geração de riqueza mais democrático e plural, talvez não haja uma única solução mas muitas conjugadas para atingir o objetivo desejado, alternativas em culturas familiares de subsistência, policulturas intercaladas ou combinadas que permitam a manutenção em um mesmo espaço de árvores frutíferas, leguminosas e criação de animais para abate.
Analisando os aspectos cármicos da questão, fica sempre a ideia de que estamos cometendo crimes contra a natureza e aos nossos irmãos animais, que estamos nos infectando com energias deletérias vindas de carnes e da morte de outros animais, em parte isto é verdade e em parte não é.
Estamos encarnados neste planeta para evoluir como consciência, estou convencido que a Vida neste planeta é em si uma consciência em evolução, da qual fazemos parte e é pertinente aos ciclos evolutivos: a competição pelo alimento e a realidade dos mais fortes se alimentarem dos mais fracos, somos assim, é da natureza das coisas deste planeta.

Estar presos a estas regras evolutivas não é em absoluto uma sentença, mas uma responsabilidade, é Dharma coletivo a ser cumprido em nome de um ideal de reintegração, nisto vemos que o conceito de humanidade se amplia e ganha limites antes impensados, como não haver competição e sim comunhão, como inverter nosso carma genético coletivo de canibalismo.
O hábito de comer carnes vem do canibalismo segundo dizem algumas correntes respeitáveis e mais aceitas da antropologia comparada, os grandes macacos, nossos parentes primatas bem próximos, tem como fontes de proteínas animais o consumo de insetos, larvas e comer a carne de seus oponentes mortos em lutas territoriais, não te parece semelhante com outra história...

A humanidade em seu nascedouro estava envolvida em uma luta feroz pela água e o melhor acesso à cobertura vegetal, esta havia sofrido drástica redução após mais uma brusca mudança climática por volta de 1.8 milhão de anos atrás. Correndo o chão para fugir da seca, dos grandes felinos e outros predadores e disputando território com outros grupos primatas, o proto-homem só tinha duas coisas que o diferenciavam fortemente de outros animais: andar de pé e com isto ver mais longe e o melhor alinhamento da coluna e das relações entre os tendões que possibilitou a maior habilidade com as mãos passou a se utilizar de instrumentos auxiliares para se defender, as armas primitivas que não passavam de pedras e pedaços de troncos, usar instrumentos e a evolução das mãos levou ao aumento das funções motoras refinadas e consequente aumento do poder de decisão entre o que escolhia para usar: um tronco oco, um mais fino, outro grosso, outro flexível e assim escolhendo subjetivou e desenvolveu consciência sobre suas escolhas o que lhe deu enorme vantagem junto aos seus competidores diretos: outros primatas. Com o tempo a seleção natural elevou o homem à condição de primazia entre os primatas.

Quando novos cataclismos vieram e já estava instalado o hábito do consumo de carnes e a evolução dotou o homem de mecanismos de digestão mais apropriados ao consumo de uma base alimentar muito grande, inclusive o consumo de carnes, e ao desaparecimento de boa parte da vegetação pela glaciação, só restou ao homem a possibilidade de predar outros animais para sua subsistência, o consumo de carne deixa de ser canibalismo afirmativo de supremacia e passa à prioridade vital como única fonte de alimento.
Isto se perpetua quase inalterado até o surgimento da agricultura, só então se inverteu o vetor alimentar bem como o modo de produção do homem primitivo.
Não é por pedantismo que fiz esta longa explanação sobre a história da base alimentar humana, é para deixar claro que não estaríamos aqui sem o consumo de carnes e que a evolução nos fez hábeis para isto e mudar isto é também muito de competência dela.
Quando dizemos que o vegetarianismo é a opção ética diante de todas estas considerações estamos dizendo que ajudaremos a evolução? Acelerar processos como este não é possível, salvo pela mudança radical no psiquismo dos indivíduos, tornando-os mais leves, mais integrados à tudo que os cerca, mais conscientes da responsabilidade individual e coletiva consigo mesmo, com seu ambiente e com os outros com quem partilha a vida e o espaço de vida no planeta, por fim da própria parcela de luz na Consciência Planetária, chamo isto Umbanda.
Tal estado de consciência que é capaz de alterar carmas genéticos e determinar novos padrões vibratórios que possibilitem a evolução da espécie chama-se amor, ao que só é atingido através do exercício da humildificação de nossos eus para uma nova possibilidade humana mais inclusiva e total, onde respeita-se o direito à vida e existência plena.

Mas isto é espaço em construção, não pode partir para radicalismos e achar que parar de comer carnes distante de uma reintegração humana mais profunda trará qq benefício real permanente.
Para mim, apesar de nesta vida ser muito difícil mudar, faço minha lição de casa legando aos meus filhos e amigos minha busca de plenitude e reintegração, meu caminhar nesta vida na intenção do mais puro e mais harmônico, faço eu a minha Umbanda, todo o dia um pouco mais e assim colaboro humildemente para que outros o façam também.
Desculpe o texto tão longo ,
Beijos.

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